segunda-feira, 31 de maio de 2010

05/06/2010 - Programa sobre o cavalo


Os fósseis mais antigos de troncos primitivos do cavalo são originários da América do Norte. Como se vê, o berço do cavalo foi a América do Norte, há 50 milhões de anos. Antes do ano 1500 da nossa era, não havia cavalos nas Américas. Não existe, nas línguas originais do Continente Americano, nenhum termo que signifique cavalo. Todos os vocábulos que atualmente existem são derivações da palavra caballo do espanhol.
Nas escritas dos sumérios, hititas, assírios, babilônicos, hunos e ávaros já existe esse vocábulo há muitos séculos antes dos mongóis, egípcios, indianos, gregos, romanos e chineses. Os primeiros cavalos que chegaram no Continente Americano, mais precisamente no México, foram trazidos por Hernán Cortés, em 1519. Eram animais tão estranhos que assustaram os habitantes locais. Cobertos de pesadas armaduras, pareciam verdadeiras máquinas de destruição, blindadas e indestrutíveis.
 
 
Conta, a História, que o mesmo pavor tiveram os gregos, que também não conheciam o cavalo, ao serem invadidos pelos mongóis. Seria a origem da lenda dos Centauros. É idéia generalizada de que quem trouxe o cavalo para a América do Sul foi Don Pedro de Mendoza. Segundo os belíssimos versos do poeta José Curbelo – a beleza dispensa a verdade – era um zaino colorado:
“O cavalo tem chegado
com Don Pedro de Mendoza.
Sobre a pampa grandiosa
logo se tem multiplicado.
Trazia um zaino colorado
que quando desembarcou
junto a Riachuelo montou,
e penso que foi o primeiro,
que respirando o Pampeiro,
estas campinas cruzou”.
A idéia de que foi Don Pedro de Mendoza quem trouxe o cavalo para a América do Sul, hoje em dia não é mais aceita. Conforme pesquisas de Federico Oberti, Mendoza não deixou cavalos em Buenos Aires. Foi na segunda viagem de Colombo que trouxeram os primeiros cavalos para cá, vindos da Espanha. Segundo os historiadores, foi a primeira expedição verdadeiramente colonizadora: dezessete veleiros e entre 25 e 30 cavalos.
No seu livro El gaucho, Fernando O. Assunção afirma: “Quase seguramente foram, como mínimo, entre vinte e cinco a trinta cavalos embarcados. Esta quantidade está documentada detalhadamente por um pergaminho real datado no dia 23 de maio de 1493, em Barcelona, em que os Reis Católicos Isabel e Fernando ordenam que: ‘Entre a gente que mandamos ir na dita armada, temos concordado que sejam vinte e cinco lanças ginetes, a cavalo, por onde vos mandamos que entre a gente da irmandade que está nesse reino de Granada escolhais as ditas vinte lanças, que sejam homens seguros e confiáveis e que vão com boa vontade, e cinco deles levem cavalgaduras de reserva e que as ditas cavalgaduras de reserva que levam sejam éguas.’ ”
Em menos de oitenta anos, o rebanho cavalar do Sul da América do Sul, em especial o Pampa argentino e a Campanha rio-grandense, chegou a muitos milhares de cabeças. Só para se ter uma idéia da enorme quantidade de cavalos que deveria existir nessas regiões, em 1754 Bartolomeu Chevar levou do Rio Grande do Sul para Minas, 3.780 mulas. Para haver 3.780 mulas deveriam existir muitas éguas, já que a mula é um animal híbrido e estéril. Ainda em 1768, quando os jesuítas foram expulsos, só na região das Missões existia perto de duzentos mil cavalos, mesmo depois dos rebanhos terem sido saqueados pelos índios infiéis que iam até as proximidades dos “Povos” fazer grandes arrebatamentos para vender aos portugueses. Tal era a quantidade existente, informa José Hansel (“A pérola das reduções jesuíticas”), que a quebra era logo compensada pela reprodução.
Para o gaúcho, o cavalo é o "animal", por excelência, usado quase que exclusivamente para montaria. Já o índio rio-grandense, vencido o temor que o animal desconhecido lhe causava, cavalgava altivamente pelas coxilhas, montando "em pêlo" ou, mais tarde, como mostram desenhos do pintor Debret, num tipo de sela primitivo: num "xergão" sobre o qual havia uma "carona", presa por uma espécie de "cincha", governando o cavalo por uma corda que lhe era amarrada no queixo.
Hoje os arreios, isto é, as peças necessárias para encilhar o cavalo, os chamados "aperos" ou "preparos" são bem mais complexos. Distinguem-se os aperos da cabeça e os de montaria.
Toda a cultura gaúcha está embasada no cavalo. Até na sua filosofia de vida abundam as comparações com esse animal. Quando o gaúcho quer dar um exemplo de precaução, diz: “Nunca boleie a perna em rancho estranho sem dar o ‘Ó de casa!”. Significa não apear do cavalo sem que primeiro apareça alguma pessoa da morada. É para essa pessoa acalmar os cachorros. Outro exemplo: “Ao começar a encilhar um cavalo, a primeira peça dos arreios que se põe é o freio”. O cavalo enfrenado, em caso de urgência está em condições de ser montado em pêlo, mas, se estiver só encilhado, sem o freio, não serve para nada. Mais um: “Não fique diante dos bois, atrás dos cavalos, nem perto dos superiores”. Os bois dão chifradas; os cavalos, coices e os superiores, puxões de orelhas.
Esse amor ao cavalo explica porque ele não é consumido como alimento. Nem os bárbaros de Átila comiam carne de cavalo. Ninguém come um amigo! Seria quase um canibalismo.
A grande maioria dos conselhos gaúchos estão relacionados com o cavalo, seu comportamento ou afins: lidas campeiras, arreios. Aqui vão alguns, colhidos do livro Mala de poncho, de Raul Annes Gonçalves:
“Desconfiado como bagual torto.” (Cego de um olho)
“Andar com as cinchas nas virilhas.” (Andar mal de finanças)
“Cavalo maneado também pasta.” (Alusão ao homem casado que namora)
A maneira de falar do gaúcho antigo chegou de forma impressionante até nossos dias. Mesmo nos maiores centros urbanos do Estado, dezenas de palavras oriundas da lida campeira continuam sendo usadas com significado paralelo ao original.
Também chegaram até nossos dias a música, os payadores e a poesia gaúcha. Simões Lopes Neto no seu Cancioneiro Guasca, antologia da música popular gaúcha do passado, mostra a atenção que os habitantes do interior tinham pelo gaúcho. Muitas pessoas do interior, ainda hoje ligadas diretamente ou indiretamente ao campo, compõem músicas e fazem poesias e trovas a maneira do gaúcho.
Até hoje, muito embora algumas tentativas, o cavalo ainda não pode ser substituído por máquinas nas lidas de campo.
Estas o ajudam. Estas ajudam muito, mas ainda não podem fazer o que o cavalo faz, como por exemplo, um aparte no rodeio ou numa porteira de mangueira. Além disso, o cavalo é o ingrediente que maiores belezas e alegrias produzem dentro dos trabalhos de uma estância. Ë belo, é ágil, é inteligente, é dócil, é veloz, é vaidoso, é forte, enfim nos proporciona momentos de verdadeiro encantamento, principalmente quando, em seu lombo, praticamos as mais difíceis, porém mais emotivas e alegres lidas, como o tiro de laço e o aparte, que hoje os "Crioulistas"apelidaram de "Paleteada" .

quinta-feira, 27 de maio de 2010

29/05/2010 - Programa sobre o Carijo da Canção Gaucha


 A cidade de Palmeira das Missões está em festa neste final de semana. O Carijo da Canção Gaucha chega ao seu Jubileu de Prata. Começou na quinta feira, 27 de maio, e vai até amanhã, 30 de maio, a 25ª edição do Carijo da Canção Gaucha.
Neste nosso especial de hoje sobre o Carijo, primeiramente vamos apresentar alguns dados sobre a cidade de Palmeira das Missões.
A População Total do Município é de aproximadamente 38.000 (trinta e oito mil) de habitantes.
O ano de Instalação do município de Palmeira das Missões foi em 1874 pertencente a microrregião de Carazinho, com uma altitude da sede de 639 m em relação ao nível do mar e fica a uma distância da Capital de 311.8808Km.

Vamos para o significado da palavra Carijo, na verdade Carijo Ervateiro.
É um jurau de varas toscas, horizontal ou em forma de cumeeira rasa, a um metro e meio ou pouco mais do solo, onde se colocam os feixes de erva-mate, já sapecados, para a secagem ao calor direto do braseiro que arde embaixo de toda a extensão coberta. A diminuição do calor obriga os "rondas" do carijo a passarem as noites de vigilância, emparelhando o braseiro com o auxílio de guampas d'água, atiradas de quando em quando sobre as labaredas mais altas, cujas faíscas podem ocasionar incêndios.

Com o Carijo da Canção Gaúcha, Palmeira das Missões escreveu uma página de destaque no calendário dos grandes festivais nativistas que hoje cobrem o mapa do Rio Grande com sucesso incomum. Talvez seu êxito não se deva apenas ao sentido de puro divertimento, ainda que consagrado pelo prestigio da arte.
Em seu sentido mais profundo, ele se traduz como a concretização de um novo diálogo entre a cidade e o campo, uma expressão singular de urbanismo, em que o galpão, antes rude abrigo de servidores rurais, assumiu a condição de espaço humanizado para encontro entre todas as classes, no ritual fraterno do chimarrão e na fusão afetiva de tertúlias e fandangos.

O título "Carijo", além de expressivo é muito feliz para Palmeira das Missões, que é filha da erva-mate. Ela começou no início do século XIX, como "Vilinha do Erval", um rancherio de capim, localizado na mesma coxilha onde se realiza este Festival, em que as caravanas vindas de Cruz Alta se abasteciam do "ouro verde das matas", a primeira das riquezas que os jesuítas nos legaram.
Tal era a quantidade, e principalmente a qualidade da "ilex paraguariensis" aqui existente, que o primeiro acampamento cresceu tanto, como reza um relato da época, que em breve passou a Sede de um Distrito, com cerca de quinze mil quilômetros quadrados, entre Santa Bárbara do Sul e Iraí, por um lado, e Passo Fundo e Santo Ângelo, por outro.

Verdadeiro salão social dos ervateiros, o Carijo, desde suas origens, foi um ritual festivo e competitivo, em que as noites de rondas se encurtavam com anedotas, chistes, causos e assombrações, os desafios rimados e os decantes ao som do violão ou da cordeona, animados a tragos de canha. Tudo isso agora revive simbolicamente no Carijo da Canção Gaúcha, com o concerto de artistas de todo o Brasil.
Iniciou nesta quinta feira a 25ª Edição do Carijo da Canção Gaucha em Palmeira das Missões no Parque Municipal de Exposições Tealmo José Schardog. A expectativa é que mais de 120 mil pessoas prestigiem o Carijo.
O Carijo da Canção Gaucha é Patrimônio Cultural do Rio Grande do Sul através da Lei Estadual 12.285/05, o Carijo recebeu o Troféu Cultura Gaucha, concedido pela Secretária de Estado da Cultura, em nome do Governo do Rio Grande do Sul, como um dos maiores eventos culturais do gênero.

O Carijo na verdade é composto por dois tipos de público. São aqueles que participam para prestigiar o festival de musica nativista que ocorre no pavilhão central do parque, e aqueles que apenas visitam o parque para conferir o comércio e a cidade de lona. Como já falamos, a comissão espera um público de 120 mil pessoas nos 4 dias de festival.
Os jurados do festival são: Antonio Augusto Korsack Filho, Sabani Felipe de Souza, Adão Quintana, Dorval Delgado Dias e João de Almeida Neto.
Na noite de hoje além das musicas da ultima noite classificatória acontece o show do Grupo Parceria e Rui Biriva e na noite de amanhã a grande final do Carijo e show de Cezar Oliveira e Rogério Mello.





quarta-feira, 19 de maio de 2010

22/05/2010 - Programa sobre o Festival da Barranca

Nada acontece por acaso, segundo a teoria dos racionalistas. Talvez tenham lá suas razões. Menos no que se refere ao festival da Barranca. Este nasceu por acaso como os nenês de novembro, frutos da semeadura suada do Carnaval.
De todos os festivais musicais que se realizam no Rio Grande do Sul, nenhum é mais original do que o chamado "Festival da Barranca". Fechadíssimo na organização, só admite convidados especiais dos organizadores e é exclusivamente destinado a homens.
É unânime entre os barranqueiros a dificuldade de explicar o festival da Barranca para as pessoas do seu convívio diário.
As mulheres sabem que acontece algo muito importante para seus maridos, namorados e demais barranqueiros, mas, mesmo assim, convivem, diariamente, com a vontade de entender o que realmente acontece por lá.
Esse caráter íntimo faz da barranca um acontecimento especial para todos que, de alguma forma, têm contato com ela, e, por isso é um acontecimento de extrema relevância cultural para o Rio Grande do Sul.
Pelo menos desde 1965, artistas e amigos saíam juntos para pescar duas vezes ao ano. Uma vez, na época da Páscoa. A outra, em setembro, durante a Semana Farroupilha. A partir de 1972, eles oficializaram os encontros como Festival da Barranca. Desde então, durante a Semana Santa, um seleto grupo de músicos, poetas e amigos acampa às margens do rio Uruguai, entre Santo Tomé, na Argentina, e São Borja, no Brasil, para compor, tocar e celebrar, à luz da lua cheia, o que de mais valioso existe na cultura gaúcha.
E tem um diferencial em relação a outros festivais nativos: na noite da sexta-feira, uma comissão julgadora escolhe um tema e os barranqueiros têm até a noite seguinte para compor em cima do que foi proposto. O país Barranca possui até moeda própria: cédulas de Manduca são usadas para se adquirir as bebidas, já que as refeições são fornecidas pela organização.
O Festival da Barranca é realizado todos os anos a partir da Quarta-Feira Santa, a 17 km do centro de São Borja, em pesqueiro às margens do rio Uruguai.
Além de reunir algumas das maiores expressões do nativismo sul-americano, o festival também reúne personalidades políticas do cenário estadual e nacional. Apparício Silva Rillo e José Lewis Bicca, já falecidos, estão entre os idealizadores do festival no início da década de 1970.
É dado um tema para os concorrentes comporem em 24 horas uma música. Escolhida as melhores, então os vencedores vão até o centro de São Borja, apresentam-se para a população, em praça pública, e retornam ao local da Barranca em que os companheiros esperam. Uma bebemoração ao longo de quatro dias, com muito consumo de churrasco - o que para os mais católicos, constitui um sacrilégio.
O festival é só para homens. A presença feminina inibiria os participantes, que ficam à vontade, podem contar os mais cabeludos causos e, especialmente beber muito...
Os compositores de maior destaque são convidados a participar da parte musical - que só oferece prêmios simbólicos.
Os convites são pessoais e intransferíveis. E para participar o convidado tem que ser aceito pelo grupo.
O Troféu "Tio Manduca", homenagem a Cláudio Oraindi Rodrigues, presidente da comissão julgadora da 1a. edição do festival da Barranca, foi confeccionado pelo artista plástico Francisco Viana e conferido aos vencedores do Festival da Barranca até o ano de 2000.
Hoje encontra-se sob a guarda do Grupo Amador de Arte Os Angüeras, na cidade de São Borja.
O Troféu "Apparício Silva Rillo", foi instituído no ano de 2001, em substituição ao troféu "Tio Manduca" e, a partir dessa data, os vencedores do festival passaram a recebê-lo.
Uma criação do artista plástico Rossini Rodrigues, o troféu é uma homenagem à excelência poética e humana que Rillo emprestou à Barranca por quase trinta anos.
Mas pensar objetivamente a Barranca é como ouvir uma tertúlia sem gaita, como olhar a paisagem e não ver o homem, como cantar e não ter público. É quando se pede ajuda à emoção dos barranqueiros.
O festival é como uma quase utopia, um campo consagrado onde se pode ser artista e platéia ao mesmo tempo.Yamandú Costa diz que o lugar é um cantinho de sua memória onde sempre pode curar a saudade de seu pai, Algacyr Costa, parada para recarregar as baterias mas também a terra onde se chora para dentro e para fora.
O primeiro impacto da Barranca, especialmente sobre os gaúchos mais urbanos, é a geografia. Quem está acostumado ao ritmo vertical e urgente das grandes cidades tem de se acostumar com a paisagem horizontal de um rio que se move lentamente. O segundo choque chega por meio das palavras, e nem é através das tais empunhas (brincadeiras de duplo sentido correntes em qualquer universo masculino), mas da maneira como se pensa o que falar. O tom é basicamente afetuoso, geralmente ocupado por expressões como “figuraça” e “que tal”, ou por expressões tipicamente barranqueiras como “barbicachear” (verbo que se atribui ao índio impertinente, que não larga do pé do vivente).Mas o mais importante é perceber que mais importante que o sotaque ou o léxico é o jeito: gaúchos não respondem diretamente a uma pergunta, eles respondem contando uma história.
O festival funciona como um palco em tempo real, interativo e 24 horas no ar.A música e a poesia se instalam sob as árvores, ou a partir das tertúlias que se fazem dentro do galpão montado junto ao pesqueiro, que serve para os shows e para as refeições. E uma revelação se faz: o gaúcho não canta apenas milongas, como a lógica competitiva dos festivais nativistas exige: se canta e toca também o chamamé, a valsa, a milonga, o samba, a tirana, a canção, o xote.
Obs: Fotos de Flávio Campos Sartori

sexta-feira, 14 de maio de 2010

15/05/2010 - Programa sobre os Angueras


Para contarmos um pouco da história dos Angueras, teremos que primeiro contar um pouco da vida de um dos fundadores do Grupo Amador de Arte Os Angueras, José Lewis Bicca.
Tudo começou em 1961, quando Bicca chegou em São Borja vindo de Cachoeira do Sul. Bicca, por incrível que pareça, não tinha vínculo com a cultura gaúcha antes de chegar aqui, vindo a se tornar um dos maiores nomes do meio na atualidade. Em Cachoeira, Bicca era jogador de basquete, e ao chegar em São Borja fundou o “Clube dos Dez”, grupo de amigos dispostos a praticar e divulgar o esporte pouco difundido. Reuniram amigos, compraram bolas, construíram tabelas e começaram a treinar. O 2º Regimento de Cavalaria João Manuel também tinha um time de basquete, e assim começaram a realizar jogos entre si. Na década de 60, durante a ditadura militar, os militares obviamente não admitiam perder para os civis, e a rivalidade entre eles crescia. Por algum tempo disputaram partidas, e tendo em vista a pouca adesão dos moradores ao esporte, o time terminou e outra vontade floresceu entre eles: o gosto pela música.
Numa época em que “Os Beatles” reinavam no mundo inteiro, esses jovens, contrários a cantarem em inglês, a repetir Teixeirinha e a bossa nova carioca, decidiram fazer sua própria música, cantar seu cotidiano, sua terra e seus costumes.
Numa entrevista ao Jornal Zero Hora, José Lewis Bicca contou sobre sua vida na musica e também sobre o Grupo Amador de Arte Os Angueras, revelando algumas peculiaridades não sabidas por muitos artistas do meio.
Sobre o inicio dos Angueras ele disse:
- Fundamos Os Angüeras em 10 de Março de 1962. Eu, Telmo de Lima Freitas, Apparício Silva Rillo, Sadi Santiago (Capincho), Darvey Orenga, Vicente Goulart e Carlos Moreno (Pimpim). Queríamos cantar a nossa terra, mas iríamos cantar o quê? Teixeirinha? Não. Não havia repertório de música gaúcha como existe hoje. Então resolvemos compor nossas próprias canções. O nome “Angüera” foi idealizado por Rillo e significa “espírito que volta” ou “alma que se devolve ao corpo”.
De origem Guarani, "Angüera" significa "espírito que volta" ou "alma que se devolve ao corpo", um pouco estranho a primeira vista, mas, logo, compreensível, pois o "Angüera" antes triste e caladão, virou cantador e tocador de viola, depois que os padres das Missões o batizaram e lhe deram o nome de Generoso e, assim, na mitologia missioneira "Angüera" pode ser considerado o patrono da música e da alegria gaúcha.
Com a poesia de Rillo por esteio, surgiu “Os Angüeras” (nome sugerido pelo próprio Rillo), composto pelos nomes já citados.
De um desses encontros, surgiu a primeira música do Grupo: "Valsinha de Trazontonte" - Letra de Apparício Silva Rillo e Música de José Lewis Bicca. Ao receber a letra, disse Bicca:
- Mas eu nunca fiz música.
Rillo respondeu:
- Não fez, mas vai fazer.
 
Um hábito entre Aparicio Silva Rillo e José Lewis Bicca acontecia naturalmente antes de cada composição em parceira. Rillo colocava sua letra dobrada no bolso de Bicca, que a lia, e, se achasse que era possível musicá-la, dobrava novamente e colocava de volta em seu bolso. Se, ao ler, Bicca não se identificava com a temática ou não via possibilidades de fazer a música, dobrava e devolvia para o bolso de Rillo.
Os Angueras tem sua sede localizada na beira do rio Uruguai, em São Borja , se notarizaram, também, pela organização do festival de canções regionalistas, o "Festival da Barranca", elitista, que reune a "nata" do nativismo gaúcho e que acontece sempre na semana santa, mas sobre o Festival da Barranca vamos deixar para outro programa.
Os Angueras grava seu primeiro LP em 1975. Embora tenha passado por inúmeras formações, sempre foi dirigido e integrado por José Lewis Bicca. Quando gravou o CD "Sinhá Querência", sua formação era do citado Bicca (direção, vocal e violão), Pedro Ayub Julião (solista e vocals), Paulo Roberto Lima (arranjos, sopros, teclado e vocal), Sérgio Wagner de Souza (violão e vocal) e Derly Azambuja Meneghetti (violão, sopros e vocal).
O Grupo Os Angueras encenou peças teatrais, montou jograis, realizou bailes e jantares, participou de inúmeros festivais nativistas, dentre eles, como registro histórico, destacamos a participação no mais antigo festival de música nativista do Rio Grande do Sul - Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana - com sendo o primeiro grupo a subir no palco para apresentar a primeira música (andarengo). Assim, antes mesmo do surgimento dos festivais o grupo já cantava e cultuava as coisas do Rio Grande. Fazendo, então, a partir disso, a construção de um repertório próprio, com letras de Apparício Silva Rillo e músicas de José Lewis Bicca.
Olha o dourado que bateu no espinhel”! Assim gritou um balseiro que pescava na popa de uma balsa no Rio Uruguai em São Borja, sob o olhar e ouvidos atentos de Apparício Silva Rillo, na companhia do parceiro e compadre José Lewis Bicca que admiravam as lidas destes. “O Rillo me convidou para irmos até a margem do rio observar os balseiros nesta tarde”, diz Bicca. Esta simples frase deu origem a uma das músicas gaúchas mais conhecidas de todos os tempos. Rillo percebeu o grito, e acrescentou:
- “Traz a canoa que rio fundo não dá pé”.
Assim, escreveu “Cantiga de Rio e Remo” que Zé Bicca veio a musicar posteriormente.
Apparício Silva Rillo filho de Marciano de Oliveira Rillo e de Lélia Silva Rillo, nasceu em 8 de Agosto de 1931, em Porto Alegre.
Com a indicação de haver nascido na capital do Estado, seu registro civil de nascimento foi efetuado na cidade de Guaíba, circunstância que, mais tarde, viria a trazer não pequenos incômodos ao poeta. Alguns de seus documentos pessoais apontavam Guaíba como seu local de nascimento, dado que o registro em si trazia o timbre, como já referido, do cartório daquela localidade. Até hoje, inclusive, não são poucos os que juram ter Apparício nascido na cidade berço de José Gomes de Vasconcelos Jardim - um dos pró-homens da Revolução Farroupilha. O que, dizia o poeta, muito o enobrecia. "Minha raiz mais funda é guaibense", confirmava.
*Em Capela de Sant'Anna o poeta cumpriu o que chama sua "iniciação" em costumes campeiros. O estabelecimento de experimentação agrícola dirigido por seu pai, locado em três quadras de campo, era uma espécie de média estância. Além dos trabalhos agrícolas de rotina, havia um posto de remonta com um diversificado plantel de reprodutores, um plantel de vacas mansas e dezenas de cavalos para o serviço. Desse contato com os hábitos campeiros comuns aos homens que trabalhavam no Posto de Sementes, das conversas com os peões encarregados das tarefas diárias, nasceu-lhe o gosto, que já vinha de berço (o pai era filho de estancieiro), pelos costumes mais autênticos da vida rural gaúcha.
Aparicio Silva Rillo com os Angüeras, de 1971 a 1975, recebeu expressivas colocações na Califórnia da Canção Gaúcha, em Uruguaiana. Foi o grande vencedor deste evento em 1975, com “Roda-Canto”, musicada por Mário Barbará, havendo a dupla, na oportunidade, recebido nada menos que cinco premiações pela mesma composição. Ainda com Barbará, foi o vencedor da Linha Campeira em 1976 e 1977, e da Linha de Manifestação Rio-Grandense em 1978, na mesma Califórnia da Canção. Venceu, com Luiz Carlos Borges como parceiro, a I Ronda da Canção de Alegrete, em 1980; a III Vindima da Canção de Flores da Cunha, em 1982 e a V Vigília do Canto Gaúcho, de Cachoeira do Sul em 1986. É autor, com música de José Bicca, dos hinos oficiais dos municípios de São Borja e Cerro Largo. No gênero popular tem parcerias com o grande compositor Túlio Piva e, com músicas suas e de outros parceiros, venceu por várias vezes o Festival de Músicas para o Carnaval, que São Borja realiza anualmente desde 1969.
Aparicio Silva Rillo enxergava poesia em tudo o que o rodeava, além de sua memória impecável e Q.I. altíssimo. Considerado um oleiro das palavras, a moldava com carinho como se fosse barro e cantou tudo o que há dentro do RS. Alguns dos seus poemas mais bonitos foram escritos em questão de minutos, tais como: “Vidro dos Olhos” e “Vertente, Caminho e Foz”. Rillo vem no rastro de Aureliano de Figueiredo Pinto, poeta e precursor da intelectualidade poética regional. Contemporâneo de Antônio Augusto Ferreira, Jayme Caetano Braun e Colmar Duarte, poetas do mais alto calão que enriqueceram, juntamente com Rillo, a cultura poética gaúcha, nos deixando um legado cantado até nossos dias, desde as metrópoles até os mais longínquos rincões do Rio Grande do Sul. É seguido também por nomes da nova geração da poesia, como Gujo Teixeira e Rodrigo Bauer. A ausência deste angüera é sentida em todo o Estado, principalmente em São Borja. É uma lacuna impreenchível nos anais da cultura gaúcha.

E na manhã do dia 23 de junho de 1995 (na véspera de São João) Apparício Silva Rillo aos 63 anos deixou um pouco mais órfãos a cidade de São Borja e o Rio Grande do Sul.
Apparicio Silva Rillo faleceu de parada cardíaca em 23 de Junho de 1995 aos 63 anos de idade em São Borja. Foi um dos maiores poetas do Regionalismo gaúcho chegando a ingressar na academia Rio Grandense de letras, deu os primeiros passos de sua vida em Guaiba.
José Lewis Bicca o Zé Bicca, engenheiro mecânico frustrado, realizava-se entendendo como as coisas funcionam – para , depois, transformá-las. Mas seria impossível tentar descrevê-lo a partir de informações objetivas e racionais, ainda que algumas delas exibam indiscutível valor histórico.
José Lewis Bicca morreu no dia 9 de setembro de 2009 à noite da mesma maneira como viveu os 71 anos da sua vida: do coração. Seu velório foi adequadamente grave como sua voz e emocionado como sua alma, reunindo amigos, autoridades e artistas no museu que o grupo Os Angueras mantém em São Borja. A dimensão da perda de Bicca talvez justificasse a escolha solene do local, afinal, o cachoeirense sempre foi pau para toda a obra que significasse preservar e recuperar a memória da vida do homem e da mulher do campo, com destaque para a sua iniciativa de criar, ao lado de amigos como Telmo de Lima Freitas e Apparício Silva Rillo o grupo amador de arte Os Angueras, em 1962.

sábado, 8 de maio de 2010

08/05/2010 - Programa sobre Leonardo

Batizado Jader Moreci Teixeira, nascido em 1939 e criado no interior do município de Bagé, a trajetória artística havia começado ainda na infância. A vivência do campo iria inspirar muitas de suas composições na fase adulta, mas o início da carreira artística começou trabalhando em um circo local no papel do palhaço Zé Sabugo.
Aos 20 anos, mudou-se para a Capital para iniciar a carreira de cantor, mas não ainda como artista gauchesco: o nome artístico Leonardo surgiu porque ele formou dupla com Leonir Marques para cantar música sertaneja, ambos inspirados nos sucessos que chegavam do interior de São Paulo pelo rádio.
Nos anos 1960, o cantor voltou-se ao regionalismo gaúcho, tornando-se integrante do grupo Os Três Xirus. O trio gravou 12 discos e participou das primeiras edições da Califórnia da Canção Nativa.
Em 1974, Leonardo saiu do grupo e passou a trabalhar como produtor de discos, lançando artistas como Gaúcho da Fronteira.
A canção Céu, Sol, Sul, Terra e Cor foi um de seus primeiros passos como cantor solo. Ele escreveu a canção em 1978 e, com ela, foi premiado no festival Ciranda Musical Teuto-riograndense, de Taquara, naquele mesmo ano. A canção se popularizou no início dos anos 1980, como trilha de comerciais de TV, ajudando a impulsionar a carreira do cantor — favorecida também pela vitória na Califórnia de 1982 com Tertúlia.

Depois de Tertúlia, com a qual venceu a 12.ª Califórnia da Canção, em 1982, ao lado de Os Serranos. Com o mesmo grupo ganhou o troféu de música mais popular de outra Califórnia, com Viva a bombacha. Outra música sua muito cantada foi Morocha não, feita em resposta à criticada Morocha, de Daví Menezes Júnior. Venceu o 1.° Ronco do Bugio de São Chico de Paula, em 1986, com Levanta bugio, onde com criatividade falou no renascimento do ritmo autêntico.

Autor de sucessos como "Viva a Bombacha", "Batismo de Sal" e "Tertúlia", que ganhou o troféu Calhandra de Ouro da 12ª Califórnia da Canção de Uruguaiana, em 1982, teve "Céu, Sol, Sul, Terra e Cor" eleita por voto popular como a música símbolo do Rio Grande do Sul.
O homem que começou atuando em circos, depois dedicou-se cantar e ao rádio. Em seu programa de radio sempre ajudava a divulgar a música do Estado e tratava com generosidade, respeito e admiração seus colegas de palco. O Jader sempre gostou de música, sentia que havia algo dentro dele, uma força espiritual que um dia haveria de brotar.
Outra pérola composta por Leonardo foi O homem do pala branco, com uma mensagem tocante:

Leonardo era cidadão emérito de Viamão, Bom Jesus, Torres, Taquara, Tramandaí e Porto Alegre, foi agraciado inúmeras vezes, com a medalha Personalidade da Sociedade Porto Alegrense, Prêmio Lupicínio Rodrigues e Comenda Laurindo Fernandes do Amaral, de São Leopoldo.

Desde abril de 2003, Leonardo apresentava aos domingos um programa de música nativista na Rádio Guaíba AM, chamado "Província de São Pedro".
Uma frase desse genio o segredo esta na simplicidade a musica entra pelo ouvido e vai direto ao coraçao. Ele adorava o público e era adorado por ele. Nos últimos tempos, teve o companheirismo e os cuidados do colega Heleno Gimenez, que foi o grande amigo da sua vida até os últimos momentos.

Quantas canções do Leonardo foram gravadas?
O Teixeirinha, o Bruno Neher, o Leonir e o Leonardo estão entre os recordistas em gravações como autores e intérpretes. Quer dizer, o Leonardo assegurava ao Jader uma vida cômoda, carros bons e uma bela casa aqui na entrada de Viamão.
Jader Moreci Teixeira era sério e responsável, amigo de seus amigos, carinhoso com a mãe, foi casado duas vezes e deixou um filho e dois netos. Muito humano e solidário, com o tempo tornou-se espiritualista e foi fascinado pelo Reiki. Era homem de gestos humanos muito largos.
No madrugada do dia 7 de março de 2010 em Viamão morre o cantor nativista Leonardo, aos 71 anos, vítima de complicações decorrentes de uma parada cardíaca sofrida dias antes, após uma hemodiálise. Foi um músico, cantor e compositor brasileiro de música regional gaúcha. “Leonardo” tinha 71 anos, sendo 40 de carreira artística, que inclui cerca de 800 músicas gravadas e 41 discos.

domingo, 2 de maio de 2010

Historia de Caçapava do Sul

Narrativa da História de Caçapava do Sul em capitulos.
Vozes que participam desta narrativa: Vilmar Hampel, Sergio Guedes, Paulo Roberto Lopes, Adélia Cagliari, Salete Barbosa, João Batista Mussulin, Natália Medeiros, Savian, Everaldo Shimith.
Capitulo 01

Capitulo 02

Capitulo 03

Capitulo 04

Capitulo 05

Capitulo 06

Capitulo 07

Capitulo 08

Capitulo 09

Capitulo 10

Capitulo 11

Videos

ENCONTRO COM A CULTURA GAUCHA 

Ponto de Cultura no CTG Clareira da Mata em Caçapava do Sul 
Postado em 04/06/2010


XX Feira do Livro de Caçapava do Sul 
A XX Feira do Livro de Caçapava do Sul que está acontecendo no Salão Paroquial e que foi aberta dia 30 de abril e vai até dia 9 de maio de 2010.

Patrono da feira é o escritor Remaldo Carlos Cassol e o lema é:

Caçapava do Sul, uma cidade que lê
Video da solenidade de abertura da 20ª Feira do Livro de Caçapaava do Sul

sábado, 1 de maio de 2010

01/05/2010 - Programa sobre Noel Guarany


Noel Borges do Canto Fabrício da Silva, o Noel Guarany, nasceu no dia 26 de dezembro de 1941, em Bossoroca, então distrito de São Luiz Gonzaga, na região das missões no Rio Grande do Sul e viveu até a adolecência, além de sua terra natal, em Garruchos e São Luiz Gonzaga (Bossoroca emancipou-se em 12/10/1965).
Noel Guarany era descendente de italianos e índios guaranis. Filho de João Maria Fabrício da Silva e Antoninha Borges do Canto, sua descendência paterna era ligada a José Fabrício da Silva, italiano, que veio de São Paulo e recebeu uma sesmaria de campo na região de Bossoroca, onde se estabeleceu em 1823. Pelo lado materno, descende de Francisco Borges do Canto, irmão de José Borges do Canto, que recebeu várias quadras da sesmaria na região das missões. Francisco nasceu em 1782 e foi estancieiro em São Borja. Os Borges do Canto tiveram grande influência e importância na formação das fronteiras do Rio Grande do Sul, inclusive, José Borges do Canto participou da conquista dos sete povos das missões gaúchas, cuja rendição dos espanhóis ocorreu em 13 de agosto de 1801, capitulação essa endossada por Canto.
Na adolescência, aprendeu, de maneira autodidata, o idioma guarani, bem como a compor, tocar e cantar. Noel, em 1956, com quinze anos de idade aprendeu há tocar sozinho seu primeiro instrumento, um violão com apenas três cordas, depois acordeom. Somente mais tarde passou a usar o violão que se transformaria em seu companheiro inseparável, instrumento com o qual desenvolveu uma técnica própria de tocar.
Na década de 1960 percorreu diversos países latino-americanos, onde colheu diversos ensinamentos que utilizou como subsídio para criação de suas músicas durante toda a sua futura carreira. Na Argentina trabalhou como tarefeiro de erva-mate, lenhador e balseiro. Esteve em Buenos Aires, depois foi para o Uruguai, Paraguai e Bolívia, lugares onde conviveu com muitos músicos, aperfeiçoou sua arte de tocar violão e aprendeu muito sobre a cultura musical desses países.
Em 1970, lançou, em conjunto com Cenair Maicá, com o qual vinha se apresentando pelo Rio Grande do Sul e em festivais na Argentina, um compacto simples, com as músicas Filosofia de Gaudério e Romance do Pala Velho.

Em 1970, Noel e Cenair venceram o VII Festival do Folclore Correntino, em Santo Tomé, na Argentina, com a música Fandango na Fronteira, sendo muito elogiados pelo diretor da Rádio L.R.A. 12, em vista das participações em dois especiais naquela emissora e do grande destaque e sucesso que conquistaram.
No ano seguinte, em 1971, grava o seu primeiro LP, Legendas Missioneiras, pela gravadora RGE, que traz, entre outras, parcerias com Jayme Caetano Braun, Glênio Fagundes e Aureliano de Figueiredo Pinto. Neste disco, além das músicas constantes do compacto anterior, estão presentes outras pérolas de seu repertório, como Fandango na Fronteira, Gaudério e Eu e o Rio.
Em 1972 casou com Neidi da Silva Machado, missioneira de São Luiz Gonzaga, e passou a residir em Porto Alegre, para ficar mais próximo dos meios de divulgação.
Em 1973 sai Destino Missioneiro, pela gravadora Phonogram/Sinter, no qual repete algumas das parcerias do disco anterior, bem como traz composições próprias e de Barbosa Lessa e uma parceria com Aparício Silva Rillo. Neste disco, estão presentes grandes músicas como Destino Missioneiro e Destino de Peão.
Seu terceiro LP é Sem Fronteiras, lançado em 1975 pela EMI/Odeon, que está repleto de músicas que acabaram se tornando clássicos do cancioneiro gaúcho, como Romance do Pala Velho, Potro Sem Dono (de Paulo Portela Fagundes), Filosofia de Gaudério, Balseiros do Rio Uruguai (de Barbosa Lessa), Décima do Potro Baio e Chamarrita sem Fronteira (as duas últimas, temas missioneiros recolhidos e adaptados por Noel Guarany), entre outras.

Em 1976 gravou o LP independente, com Jaime Caetano Braum, "Payador, Pampa e Guitarra", lançado simultaneamente no Brasil e na Argentina, com participação especial de Raul Barboza e Palermo. Nesse ano iniciou um programa na Rádio Guaíba de Porto Alegre e participou do programa Brasil Grande do Sul, com Jaime Caetano Braum e Flávio Alcaraz Gomes, depois passou para a Rádio Gaúcha, onde produziu e apresentou o programa Tradição e Folclore.
Em 1977 a RGE relança o disco Legendas Missioneiras, de 1971, com o título de Canto da Fronteira.
Em 1978 sai o LP Noel Guarany Canta Aureliano de Figueiredo Pinto, pela RGE, que resgata a obra e a memória de um dos grandes poetas do regionalismo gaúcho.
No ano seguinte, sai o disco De Pulperias, ainda pela gravadora RGE. Constam deste disco as músicas, Rio de Los Pajaros e Milonga del peón de campo, de Mario Millan Medina, Anibal Sampayo e Atahualpa Yupanqui, respectivamente.
Em 1980 sai Alma, Garra e Melodia, em que se destacam as músicas Maneco Queixo de Ferro e Índia cruda. Neste mesmo ano ocorre o show no Cinema Glória, na cidade de Santa Maria, que mais tarde, em 2003, viria a se tornar o disco Destino Missioneiro - Show Inédito.
Netsa época começou a se manifestar a doença que iria progressivamente lhe tirar todos os movimentos e condená-lo a um calvário (ataxia cerebral degenerativa), que se arrastou por muitos anos, fazendo com que esquecesse as letras das músicas, o que o deixava mais inquieto e amargo. Percebendo que algo de anormal estava lhe acontecendo, passou a beber com mais freqüência.
No ano de 1982, é lançado o LP Para o Que Olha Sem Ver, pela RGE, título que remete à música Para el que mira sin ver de autoria do cantor e poeta argentino Atahualpa Yupanqui (presente também na composição Los ejes de mi carreta). Além das citadas, estão presentes as músicas, Na Baixada do Manduca e Adeus Mafriana, músicas de inspiração folclórica. De se destacar, também, quatro composições de João Sampaio.
Em 1983, Noel Guarany, já com os primeiros sintomas da doença, começou a afastar-se dos palcos, e acabou redigindo uma carta aberta à imprensa, na qual reclama do tratamento recebido pela gravadora.
Em 1985 retira-se definitivamente dos palcos, em cumprimento ao prometido na carta de 1983.
No ano de 1988, em conjunto com Jorge Guedes e João Máximo, lança o disco A Volta do Missioneiro.
Nos anos seguintes Noel permaneceu recolhido em seu auto exílio, em Santa Maria. A imprensa de todo o Estado, os colegas artistas e os amigos questionavam a ausência do ídolo missioneiro. Sua vida seguia uma via-crucis, com a doença que cada vez mais se acentuava e que aos poucos lhe tirava toda a atividade motora.

No dia 6 de outubro de 1998, com 56 anos de idade, Noel Guarany faleceu na Casa de Saúde de Santa Maria. Seu corpo transladado para o município de Bossoroca, sua terra natal, onde hoje repousa em um mausoléu especialmente construído para abrigar os restos mortais de seu filho mais popular, que morreu autêntico como sempre viveu.
Toda a sua vida foi dedicada à música Sul-Riograndense, na pesquisa do folclore, do ritmo e do verso genuinamente missioneiro. Segundo ele, seu trabalho tinha como finalidade "divulgar o folclore campesino sul-americano". Conseguiu fazer de sua música a mais bela expressão cultural. Foi o maior cantor missioneiro que este Estado já viu.



Contato